sábado, agosto 13, 2011

Greve. O que está acontecendo?

Caríssimos,

A universidade pública tem sofrido com as orientações da política neoliberal vigente há tempos, que tenta moldar a opinião pública, induzindo-a a acreditar que o Estado pode desertar do seu posto e legar à iniciativa privada o papel de provedor de bens e serviços (muito bem pagos pelo cidadão, é claro). De tal forma que, ao reduzir os gastos públicos e renunciar ao seu papel, o Estado abdica de nos assegurar os direitos da cidadania.

A universidade pública brasileira vive um momento histórico.
Os servidores técnicos-adimistrativos da UFPR estão em greve há 60 dias. Os estudantes reagem ao conformismo e reacendem o movimento estudantil. Também deflagraram greve há 10 dias. Os docentes, embora inquietos, mantêm-se cautelosos e hesitantes. Ainda sem ter a dimensão do quanto a categoria responderá a uma greve nacional. Há um grande desapontamento com governo federal, que não estabelece um teto mínimo de discussão em torno de recomposição salarial para os servidores públicos. A manifestação pública da Presidente Dilma Rousseff e do Ministro Guido Mantega de que "o governo deixará 25% do orçamento do ano que vem sem correção pela inflação", além de "não haver previsão de reajuste salarial aos servidores públicos federais", desafiam a universidade a se posicionar de forma contundente.
O que está em jogo é a defesa da universidade pública e de boa qualidade.

Na tarde da última quinta (11/08), no centro politécnico, aconteceu a Assembleia Extraordinária dos Docentes da UFPR (assista ao vídeo em http://bit.ly/mQU2TE). Na assembleia, a categoria rejeitou a proposta apresentada pelo governo federal, que não correspondeu minimamente à pauta mínima dos professores das instituições federais de ensino superior. Assim, os docentes definiram a data de terça-feira, dia 16 de agosto, para a possível deflagração da greve dos professores da UFPR.

As notícias que nos chegam das demais associações docentes apontam para indicativos de greve em cerca de 14 IFES. Cerca de 11 outras assembleias docentes estavam agendadas para ocorrer no dia de ontem (12/08). Neste fim de semana em Brasília, o setor das federais do ANDES-SN está reunindo e avaliando o quadro nacional e recebendo o posicionamento da categoria em relação à proposta do governo. A APUFPR está representada no encontro do setor pelo presidente da APUFPR, Prof. Luiz Allan Künzle. Na tarde da próxima segunda (15/08), o ANDES-SN levará ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) o posicionamento da categoria.

Pauta Local de Reivindicações

Também na última quinta (pela manhã), a Assembleia Comunitária, realizada no teatro da reitoria, reuniu mais de 700 membros da comunidade acadêmica (assista ao vídeo em http://bit.ly/o52wb2). Desta assembleia, resultou uma pauta de reivindicações unificada (pdf em anexo), que foi levada até o gabinete do reitor (veja a matéria em http://bit.ly/rjdFNn). Na assembleia comunitária os estudantes reiteraram sua deflagração de greve (definida em assembleia no último dia 04), bem como o seu apoio à greve dos servidores técnico-adimistrativos.

O CEPE adiou novamente o início das aulas para o dia 22.

Há tempos não vejo tanta inquietação na universidade.
Há tempos também não via estudantes tão vibrantes, coerentes, articulados, passionais (sem perder a racionalidade) e com formidável leitura crítica do momento histórico que vivemos.

Não vamos nos dispersar.

Tomado da emoção que senti ao ouvir os estudantes na última quinta, finalizo com uma advertência de Érico Veríssimo:

"Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”

Sejamos luz e fogo! Vamos à luta!

2 comentários:

  1. Raimundo, apoio e reitero o movimento! O que mais me estranha é que não ouço nada vindo da UFMS... nem servidores, nem docentes. Muito menos sindicatos. Acho que uma parte do mundo está alheio ao que está contecendo - infelizmente 'estou' nessa parte "alheia", mas não 'sou'!!

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  2. Pois é, Ju! A mobilização aqui na UFPR está na vanguarda, mas precisa ser acompanhada pelas demais IFES. Os informes que temos é que várias universidades ainda não realizaram suas assembleias, mas cerca de 20 já tem ao menos o indicativo de greve, sem data de deflagração.

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